UM OLHAR SOBRE A CIDADE: DESARMAMENTO

 
Sexta-feira, 2.8.1974
 
Meus queridos amigos
 
Por que colocar cacos de vidro no muro? Por que enrolar-se em arames farpados? Por que andar sempre tenso, desconfiado, prevenido?
 
Um dia, disse a uma senhora: por que não se desarma para ir conversar com seu marido? Ela respondeu, rápida, que não estava armada. E eu provei que a impressão que ela dava, era de andar de pistola na mão e de faca na bota…
 
É tão raro encontrar uma criatura desarmada por dentro! Sem preconceito, sem prevenção, sem amargura! Perdoem se insisto tanto neste ponto… Tomem nota desta verdade muito séria: bondade não resolve tudo, mas o que bondade não resolve não é violência que vai resolver.
 
Aceitam um conselho, importantíssimo para o crescimento espiritual?
 
Quando lhe fizerem qualquer acusação ou uma restrição qualquer, em lugar de seu amor próprio ferido saltar, com pedras na mão, comece por admitir que talvez haja ao menos uma parte de verdade na crítica que lhe fazem… Se a gente escuta e tem a coragem de, depois ver, desarmado, o que existe de verdade na acusação feita, só tem a ganhar… Se tratar-se de engano, haverá calma para explicar o que houve. Se a crítica for de todo ou em parte verdadeira, só tem a lucrar quem procura melhorar, quem procura vencer-se…
 
Vencer! Quem não gosta de vencer?… Mas a maior vitória, não é vencer os outros, é vencer a si mesmo.
 
Que impressão lhe causa quem perde a cabeça e joga em cima dos outros o que tem na mão?… Que impressão lhe causa quem, na hora da zanga, perde o equilíbrio, abre a boca e despeja tudo, alega o que fez, descobre segredos intimíssimos, humilha a mais não poder?…
 
Vejam, agora, o contrário de tudo isto. Quem quiser pode pensar
que o que vou mostrar não existe, é sonho, é desejo, é ideal. Pode não ser frequente. Pode não acontecer a cada esquina e a toda hora, mas é real.
Assisti a um diálogo. Cada um saía de si em busca do outro. As palavras se encontravam, davam-se as mãos, sorriam, caminhavam juntos. Uma falava e o outro ouvia. Os dois se completavam. Quando os homens aprenderão o encanto, a felicidade de dialogar.
 

Deixe uma resposta