UM OLHAR SOBRE A CIDADE: POBRE COMO A GRAMA

 
Terça-feira, 24.7.1979
 
Meus queridos amigos
 
Quando se chega a um jardim onde há belas plantas — roseiras, dálias, jasmins, orquídeas, acácias, flamboyants, – quase sempre nem se pensa em olhar a grama. A menos que a grama não seja comum, seja grama sofisticada, que logo chama a atenção. Penso na grama comum. É comum, mas serve de apoio a todas as plantas do jardim.
 
Ela serve de fundo e de moldura. A grama me lembra tanto o meu querido povo, humilde e simples! Como a grama, parece que o povo nasceu para ser pisado.
 
Mas quanta surpresa se tem quando a gente afinal aprende a não apenas trabalhar para o povo, mas com o povo. Quando disse isso, em Roma, ao Santo Padre, o Papa Joao Paulo II, ele não se cansava de repetir: “Isso mesmo. Não só trabalhar para o povo, mas com o povo.”
 
Como o Papa vibrou de alegria quando multipliquei exemplos provando que, mesmo nas áreas mais profundamente sub-humanas, jamais encontramos sub-homens, mas sempre apenas homens, filhos de Deus e irmãos de Jesus Cristo. Não há sub-homens nas áreas de miséria e de fome, como não há super-homens nas áreas ricas.
 
Os governos, não apenas o nosso, os governos em geral, em nossos tempos de tecnologia muito avançada, consideram absurdo parar para escutar o povo, quando técnicos e supertécnicos preparam o projeto que vai ser executado. E mesmo quando o governo faz de conta que escuta o povo, o governo está longe de ser livre. Está enquadrado dentro de um sistema econômico de âmbito nacional e, sobretudo, internacional.
 
Pode haver até boa vontade de elementos locais, por exemplo, para garantir casa para todos. Mas o sistema raciocina em termos bancários.
 
Não só não quer ter prejuízo, mas quer ter lucro. O sistema tem um excelente pretexto: dar é humilhante. Cada um que se vire para comprar. E os preços, para quem tem, são baratos. Mas para quem não tem são impossíveis. E vem a correção monetária… O sistema esquece que é especialidade sua criar riquezas, fabricando miséria. Aumentar a riqueza dos ricos pisando ainda e sempre nos pobres.
 
Como pobre e grama se parecem! Que se pise a grama, pode-se admitir. Mas com gente é diferente! Gente é criação direta do próprio Deus. Em gente ninguém pode pisar.

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