Terça-feira, 14.10.1980
Meus queridos amigos
Assisti, no interior da Bélgica, a uma cena inesquecível. Lembro-me de que já a comentei aqui. Ela encerra uma lição tão grande, que merece ser lembrada de novo, para que dela tiremos as lições de que está cheia.
Para as pessoas, é claro, e até para o gado. Se o gado ficar ao relento, ao desabrigo, quando o inverno chega mesmo, o gado vai morrer de frio e de fome. O que vai comer se tudo, tudo, tudo fica coberto de neve? Nem água tem para beber, porque a água gela.
Deve dar uma trabalheira enorme guardar durante todo o inverno o gado preso! Ração e água tem que ser levadas aos abrigos onde o gado é guardado e protegido. Claro que o gado há de gostar de ser protegido contra o frio, e de ter alimento e água que não encontrará lá fora.
Mas ficar preso, sem poder sair durante os meses todos do inverno, deve ser horrível! Quando chega a primavera, e o gelo se vai, e o frio intenso também, quando o verde volta nas gramas, no capim, nas árvores, é hora de soltar o gado, devolvendo-lhe a liberdade.
Cheguei a uma fazenda, no interior da Bélgica, no dia e na hora em que o gado ia ser solto. Quando o gado se viu livre, nem acreditava que fosse mesmo a liberdade. Corria, dava cambalhotas, quase dançava!
Se é assim com o gado, imagine-se o que é a falta de liberdade para criaturas humanas. Um dia, a humanidade se envergonhará de não ter outro tratamento para quem cometeu crime, a não ser trancafiar um filho de Deus como se fosse uma hiena, um tigre selvagem, um leão raivoso!
Onde estão os educadores, os psicólogos, os psiquiatras, os psicanalistas que não descobrem meios humanos para tentar corrigir erros humanos. Reparem que falei em prisão, para nem aludir a aberração, a vergonha, a covardia das torturas infligidas a prisioneiros.
A liberdade é filha querida de Deus e até os animais vibram de felicidade quando chegam a reconquistá-la!