No dia 15 de agosto de 1931 foi ordenado um jovem , que para se tornar padre precisou de uma licença especial devido a sua pouca idade.
Naquele dia há 87 anos o mundo ganhou um pastor que soube conduzir suas ovelhas com sabedoria, sempre à luz do Evangelho e atendendo ao pedido de Jesus Cristo, acolhia os fracos, os oprimidos, os despossuídos da terra, tornando-se a sua voz. E, com o passar dos anos o pastor se mostrou ser um profeta, denunciando o que estava errado e anunciando o que precisava ser mudado para um mundo livre da miséria.
Lembrando esse dia postamos aqui uma mensagem do arcebispo para os sacerdotes.
Sexta-feira, 23.2.1979
Meus queridos amigos
O velho marujo costuma dizer, com uma ponta de vaidade e muito de realismo, que as tempestades eram a canção de ninar a que ele se habituara e que ele preferia. A graça de Deus me faz entender e quase repetir as palavras do lobo do mar.
Quando tudo corre de modo muito suave, quando não rebentam problemas, imprevistos, complicações, fico meio desconfiado. É difícil levar a vida evitando, ao máximo, criar problemas. Se, na pregação, o Padre fica em colocações bem gerais, se fala em pobreza, mesmo em miséria, e faz um apelo à generosidade, que não falha jamais, do nosso povo, tudo corre às mil maravilhas. As ajudas chegam numerosas, o Padre dispõe de recursos para ajudar a pobreza, o Padre é querido, é estimado…
Nada de falar em injustiças. Nada de combater o custo de vida, a corrupção, o desemprego, os despejos coletivos. Quando muito, temas assim o Padre examina em encontros pessoais com os ricos.
Mesmo aí não afirma nada: pergunta. Aceita facilmente as explicações apresentadas pelos que se tornam sempre mais ricos, enquanto os pobres se tornam sempre mais pobres.
O cristão e, sobretudo, o padre, e mais ainda o bispo, que entende sua missão profética, pode e deve exclamar como Cristo: “O Espírito do Senhor está sobre mim porque Ele me ungiu para evangelizar os pobres. Enviou-me para proclamar a remissão aos presos e aos cegos a recuperação da vista, para reconstituir a liberdade dos oprimidos, para proclamar um ano de graça do Senhor.”
Quando mais de dois terços da humanidade se acha em condição sub-humana, quando a opressão reduz milhões de filhos de Deus à miséria e à fome, como não entender tudo o que Cristo anunciou sobre a missão dura dos apóstolos? Ou se vai pensar que aquilo de sermos enviados como ovelhas no meio de lobos, aquilo de os Apóstolos serem perseguidos, presos, arrastados ao Tribunal, era só para os primeiros cristãos e que hoje a palavra de ordem é não criar problemas?
Quando entenderemos que não somos nós que criamos os problemas? Eles estão aí, gravíssimos, esmagando nossa gente sofrida! Como não emprestar voz aos sem vez, aos sem voz?
Com que direito calar ou adoçar os avisos terríveis que Cristo fez aos ricos e poderosos, aos injustos e aos opressores?
Não se trata de criar tempestades. Trata-se de não fugir delas. Trata-se de saber que ontem, como hoje e como sempre, quem quiser viver o Evangelho e anunciar a Palavra de Deus tem que saber que o servo não é menor que seu senhor. Tem que se preparar para tomar sua cruz e carregá-la. Ai de mim se eu não disser a verdade que eu ouvi! Ai de mim se eu me calar, quando Deus me manda falar!