A noite dessa quarta-feira, 18 de julho, foi o que podemos chamar de um capítulo histórico, que dá continuidade à nova história que começou a ser escrita na Arquidiocese de Olinda em Recife a partir de 2016.
Tudo começou quando Geraldo Santos levantou-se em uma reunião do Encontro da Partilha e disse: nós precisamos nos aproximar de Dom Fernando. Precisamos mostrar a ele que existem leigos organizados e que querem trabalhar ao lado dele.
E não parou por aí, levando essa ideia adiante, inquietando a todos com seus questionamentos: “Qual o papel da nossa Igreja? E nós leigos, como estamos nos articulando? Onde estão os grupos, os movimentos, as instituições que lutam pela construção de um mundo melhor e mais digno, onde todos e todas tenham vida em abundância? Diante dos O que estamos fazendo\”?
Inspirados na provocação do Papa Francisco, de sermos Igreja em saída e no documento da CNBB a respeito da PEC da morte que congelava os investimentos públicos (698/16 27/10/2016), os grupos começaram a se encontrar e efetivar esta aliança de articulação nascendo aí o Fórum de Articulação de Leigas e Leigos da Arquidiocese de Olinda e Recife.
Como primeiro evento foi realizada a I Vigília pela Democracia, tendo como pano de fundo agregador a celebração pela Páscoa de D. Helder – símbolo pela defesa da democracia e pelos direitos dos excluídos de nossa sociedade.
E para simbolizar a retomada do Povo de Deus junto a sua Arquidiocese nada mais natural que ter a parceria de D. Fernando Saburido, que acolheu a ideia imediatamente. E foi neste clima que ocorreu I Vigília pela Democracia a 6 de dezembro de 2016.
Dois meses depois realizamos a II Vigília pela Democracia em 7 de fevereiro de 2017 tendo como tema a Reforma da Previdência e celebração dos 108 anos de nascimento de Dom Helder.
Os dois eventos tiveram repercussão na imprensa e nas redes sociais, inspirando diversas vigílias por todo o país em defesa da Democracia. Esse segundo evento reuniu em torno de 500 pessoas nos jardins da Cúria Metropolitana.
O Fórum realizou ainda uma terceira vigília, no MTC, duas Semanas da Classe Trabalhadora, em 2017 e 2018 e a celebração dos 109 anos de nascimento de Dom Helder Camara, em 2018, na igreja das Fronteiras. Esses eventos mobilizaram não apenas grupos de leigos ligados à Igreja Católica. Em todos os eventos teve o apoio e a participação ativa de religiosos e religiosas, não apenas da Igreja Católica, mas de outras denominações como a igreja Anglicana e religiões de matriz Afro e também a participação de sindicatos.
Hoje o Fórum Articulação conta com a participação de 21 grupos e instituições, que tiveram a oportunidade de se apresentar ao bispo auxiliar Dom Limacedo para lhe dar as boas vindas e colocarem-se à sua disposição para trabalharem, todos juntos, na construção da paz, filha da justiça.
Dom Limacedo recebeu o Fórum Articulação com muito carinho, ouviu atento a cada uma das apresentações e ganhou até presentes.
O Grupo Igreja Nova entregou a Dom Limacedo o livro publicado em comemoração aos 25 anos de fundação do Grupo e que reúne as palestras das 13 jornadas realizadas de 1998 a 2010. Ele recebeu o presente com muito carinho, beijando o livro em demonstração do respeito que tem pelo trabalho. Dom Limacedo comentou que estava presente na primeira Jornada Teológica, no mesmo dia em que também Dom Helder esteve.
O Grupo Mulher Maravilha também presentou Dom Limacedo com uma manta artesanal feita pelas próprios mulheres do Grupo.
Ernesto, educador do Centro Educacional Profissionalizante Turma do Flau animou a noite com seu violão, levando todos a cantarem O Nascer de um novo dia, Momento Novo, o Pai Nosso, para encerrar com todos caminhando e cantando e seguindo a canção.
A abertura da noite foi feita por Antônio Carlos, o organizador do evento, coordenador da Comissão de Justiça e Paz e diretor-executivo do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara.
Dom Limacedo falou sobre sua surpresa ao ser nomeado pelo papa Francisco bispo auxiliar de uma Arquidiocese histórica como a de Recife e Olinda, que representa a evangelização, a opção pelos pobres, a justiça e a paz.
Foram 22 apresentações, começando pela própria Articulação, apresentado por Lula Figueiredo, seguindo-se então os seus 21 integrantes, por ordem alfabética.
O primeiro dos grupos e instituições a se apresentar foram as CEB’s, criadas nas décadas de 1960/1970, cujo objetivo principal é Evangelizar através de uma espiritualidade libertadora, pautada no espírito do Concílio vaticano II isto é, vivenciar a fé inserida num contexto sociopolítico, promovendo nos cristãos uma inserção social na busca da Justiça, da paz, do respeito, da dignidade humana e da solidariedade entre os povos. Impulsionar os leigos e leigos a serem protagonistas na Igreja, contribuindo para que a mesma seja profética e libertadora. E cultivar uma espiritualidade enraizada nos ensinamentos e testemunhos de Cristo Libertador. A apresentação foi feita por Sandra.
Apresentado por Josélio o Centro de Estudo Bíblicos- CEBI tem entre seus objetivos Aprofundar e consolidar a Leitura Popular da Bíblia que defende e promove a vida, através da inserção em comunidades eclesiais, grupos populares e movimentos sociais. Bem como espalhar e divulgar, entre os pobres, esse jeito comprometido de ler a Bíblia e, assim, devolver ao povo o que nasceu do povo, a Palavra de Deus, a Palavra da Bíblia.
Antônio Carlos apresentou a Comissão de Justiça e Paz colocando seus diversos objetivos, entre eles “elaborar e publicar estudos relacionados com os ideais de justiça e paz e com os ensinamentos sociais da Igreja e aprofundar à luz da doutrina social da Igreja e atenta aos movimentos sociais e políticos, a reflexão crítica sobre estruturas e situações que contrariem aspirações e propósitos de justiça, ética e paz e denuncia-las publicamente, bem como sobre a promoção, proteção e reparação dos Direitos Humanos, Civis e Políticos, assim como os Sociais, Econômicos, Culturais e Ambientais.
O próximo a se apresentar foi Ernesto pelo Centro Educacional Profissionalizante Turma do Flau, cujo principal objetivo é Desenvolver ações de Fé e Politica, de Cidadania e Direitos Sociais, a fim de contribuir na defesa, nos direitos, nos deveres e na promoção humana. Garantir junto aos órgãos competentes o DIREITO E O DEVER da criança e do adolescente, através da prática diária da cidadania e dos direitos humanos inerente a cada um, agregando valores e contribuindo para as grandes mudanças paradigmáticas.
Após uma pequena pausa para cantar um verso de momento novo, Paola apresentou o Grito dos Excluídos cujo objetivo, entre outros é DEFENDER a vida dos/das excluídos/as, assegurar os seus direitos, voz e lugar. Construir relações igualitárias que respeitem a diversidade de gênero, cultural, racial e religiosa. E sejam esperança para, juntos, lutarmos por outro mundo possível.
Bete apresentou o Grupo Igreja Nova e disse que entre os seus objetivos está Ser uma comunidade de leigos e leigas cristãos que assumem ser Igrejano Mundo e levando as angústias do mundo para a Igreja para que, alimentados pelafé, possam venceros desafios atravésda vivência do Evangelho, onde homens e mulheres adultos são chamados livremente a compartilhar o ideal cristão do Reino de Deus.
O próximo grupo a se apresentar a D. Limacedo foi o Encontro da Partilha. Vera iniciou dizendo que o grupo acolhia e trazia seu carinho para D. Limacedo e destacou que o principal objetivo do grupo é ser um espaço de partilha das nossas vidas e de reflexão e aprofundamento dos fatos da vida cotidiana e das diversas formas de fé, sempre à luz do evangelho e dos ensinamentos vividos por Dom Helder Camara. Por isso as reuniões acontecem no chão de Dom Helder. Para que a sua mística e sua espiritualidade alimentem, fortaleçam e amadureçam a mística de cada um dos integrantes.
Luiz Carlos que apresentou o grupo Fé e Política Dom Helder Camara disse que é um grupo de 22 amigos, que resolveu se encontrar para refletir sobre Fé e Política no contexto de Recife. Vinculado ao Fé e Política nacional, mantém o mesmo espírito de buscar viver a fé a partir dos desafios sociais e políticos dos dias de hoje. Surgiu como um espaço onde se pode debater, buscar saídas e se apoiar, diante da crise política que vive o país.
Exibindo faixa e estandarte e muita alegria, o grupo Mulher Maravilha, que tem 43 anos de existência, foi apresentado por Lourdes. Seu principal objetivo é Lutar pela promoção dos Direitos Humanos numa perspectiva de gênero, raça e etnia, pelo acesso à cidadania da população vítima da exclusão social e empoderamento das mulheres para a construção de uma nova sociedade.
Apresentado por sua diretora de Memória, Lucinha, o Idhec tem como principais objetivos a preservação e divulgação do legado de seu fundador, Dom Helder Camara, através da publicação de seus manuscritos, como por exemplo, as Obras Completas e do desenvolvimento de ações culturais e projetos sociais.
O jesuíta Pe. Marcos Augusto apresentou o Instituto Humanitas falando sobre seu principal objetivo que é estabelecer um espaço de reflexão nas fronteiras do conhecimento e ser um canal aberto no diálogo com a cultura e a sociedade. Associar-se a uma concepção de ensino segundo a qual a missão da universidade compreenda três níveis intimamente entrelaçados: compreender a realidade, responsabilizar-se por ela e nela intervir como um instrumento de efetiva transformação social.
Representando João Paulo que estava fora cidade, O Movimento Revolucionário – MIRE, foi apresentado por Deo. Formado por jovens militantes, tem um caráter ecumênico, que propõe a experimentação dialógica dos sentidos de Mística, Comunidade, Juventude e Revolução em um espaço alternativo, capaz de superar as dissociações entre corpo, razão e espiritualidade, o capitalismo e sua tentativa constante de barrar nossas utopias mais profundas. Bebe em uma espiritualidade libertadora e em um sentimento de unidade na opção pelo pobre que tem cor, gênero, classe e orientação sexual.
O Movimento de Cursilhos da Cristandade foi apresentado por sua coordenadora Helena. Seu principal objetivo é evangelizar os ambientes com renovado ardor missionário, à luz da evangélica opção preferencial pelos pobres, para estimular os cristãos a participarem da construção de uma sociedade justa e solidária, a serviço do Reino de Deus.
O Movimento de Mulheres Contra o Desemprego foi apresentado por uma de suas fundadoras, Leda, que disse; “aliando a fé evangélica vivenciamos ações de luta pelos direitos fundamentais perseguindo as palavras de Jesus, EU VIM PARA QUE TODOS TENHAM VIDA E A TENHAM EM ABUNDÂNCIA. Procuramos combater as causas principais da injustiça social”.
Dizendo que a CPT quer ser uma presença solidária, profética, ecumênica e fraterna, que presta um serviço educativo e transformador junto a esses povos, para estimular e reforçar seu protagonismo, Malu, representando João Paulo, apresentou a Comissão Pastoral da Terra.
Depois foi a vez de Hermínia apresentar o Movimento dos Profissionais Cristãos, cujo objetivo é Vivenciar uma práxis cristã comprometida com a construção de uma sociedade que promova justiça e solidariedade, a partir do compromisso com os excluídos, do respeito ás diferenças, à natureza e à afirmação da vida.
Para o MTC – Movimento de Trabalhadores Cristãos foi apresentado por Alexandre. Seu principal objetivo é Evangelizar e organizar a Classe Trabalhadora a luz do Cristo Libertador.
Socorro apresentou a Pastoral do Povo de Rua dizendo que seu principal objetivo é desenvolver ações que possibilitem acolhida, vivência comunitária, formação e articulação da população em situação de rua na cidade do Recife em vista da luta por políticas públicas.
Maria Laura apresentou a Renovação Cristã do Brasil, antiga Ação Católica. Seu principal objetivo é despertar o sentimento de solidariedade para com todos especialmente para os pobres e os excluídos.
Tenderini apresentou a Associação dos Trapeiros de Emáus que chegou ao Recife em 1996, quando Abbé Pierre veio participar da celebração dos 65 anos de sacerdócio de Dom Helder. Seu principal objetivo é oferecer às pessoas necessitadas da Região Metropolitana da capital a oportunidade de conseguir sua dignidade através de um trabalho de coleta, recuperação e venda de objetos usados e reciclagem de resíduos sólidos (com a filosofia de servir aos que mais sofrem).
O Movimento Tenda da Fé, apresentado por Edla Tenda da Fé, que encerrou as apresentações, é formado por cristãos católicos e se fundamenta na espiritualidade do Evangelho.
Suas atividades priorizam a participação em todas as manifestações públicas referentes aos direitos da população e em defesa da democracia. Procura ocupar as ruas, praças e outros locais públicos onde acontecem essas manifestações.
Entre os presentes ao encontro de apresentação dos membros do Fórum Articulação de Leigos e Leigas Cristãos a Dom Limacedo estava toda a diretoria do IDHeC, membros dos vários grupos da Articulação, o monge Marcelo Barros, orientador espiritual dos grupos Encontro da Partilha e Fé e Política, Xavier Uytdenbroer da Comissão de Justiça e Paz e Pastoral da Saúde, o advogado de direitos humanos e também membro da Comissão de Justiça e Paz Marcelo Santa Cruz e o Pe. Fábio Potiguar, membro da Comissão de Justiça e Paz, responsável pela Pastoral do Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da AOR. Pe. Fábio destacou a importância do papel exercido por cada um daqueles grupos dentro da AOR. Falou de sua alegria com a chegada de Dom Limacedo para Olinda e Recife e fez um pedido especial e ele: que coloque um retrato de Dom Helder em sua sala. Esse retrato será um sinal de profecia.
Dom Limacedo finalizou agradecendo a presença de todos. Falou de sua alegria em ver que todos aqueles grupos aceitaram o desafio de ser cristão e responderam a ele positivamente.
E deixou um questionamento para que o Fórum Articulação responda a ele: O que os movimentos Sociais esperam do novo bispo auxiliar?
Foi uma noite memorável, efervescente. O auditório da cúria ficou lotado. A energia positiva pairava no ar, misturada à esperança de um resgate a história da Arquidiocese de Olinda e Recife, onde Leigos e Leigas, bispos, Clero, religiosos e religiosas, caminhem juntos, unindo forças e fé para fazer acontecer a paz, filha da justiça.