UM OLHAR SOBRE A CIDADE: MODELO ECONÔMICO

 
 
Quarta-feira, 17.10.1979
 
Meus queridos amigos
 
Já repararam em um cartaz que diz: “Se nós todos trabalhadores nos unirmos, apanhamos a inflação na curva”. O cartaz tem um tom positivo que agrada. Mas a inflação é doença tão grave e tão complexa que é acender excesso de otimismo pensar que é fácil apanhá-la na curva.
 
O Japão está em plena crise inflacionária. E o que é mais impressionante: os Estados Unidos. Quem vê a poderosa Chrysler com o bico n’água pedindo ajuda ao governo norte-americano, quem vê o governo norte-americano vacilando entre ajudar ou não ajudar a Chrysler, tem uma ligeira amostra da crise que anda no ar. Vem à lembrança o velho dito dos tempos de criança: “Na casa em que falta pão, todos gritam e ninguém tem razão”.
 
É fácil gritar que a fórmula única para enfrentar nossa dívida externa e para deter a inflação é exportar, exportar, exportar… Mas quando há crise generalizada, exportar o quê, exportar para quem e até onde fazer concessões para poder exportar? Exportar, exportar, exportar — os brasileiros aqui que se rebentem? Claro que não estou aludindo aos 10% de privilégios, que, inclusive, quase sem exceção se aliam às ultrapoderosas multinacionais…
 
Exportar, exportar, exportar — mesmo que desta forma esbanjemos matérias primas, não raro, não renováveis… Esbanjar matérias primas a preço vil, a preço de liquidação… À grande massa de brasileiros é fácil oferecer engodos… Quando vamos ter confiança no Brasil e nos brasileiros, a ponto de dizer-lhes a verdade dura? O Brasil não precisa de nossas mentiras… Sabem  qual o tema escolhido por João Paulo II para sua mensagem de 1º de janeiro, Dia Universal da Paz? “A verdade, fundamento da paz”. Se as autoridades disserem a verdade toda ao nosso povo, e o governo e os grupos privilegiados derem exemplo de austeridade, se o povo vir que as mordomias não criam juízo e a expressão economia de tempo de guerra não é simples frase de efeito, o povo, que já vive tão sacrificado, terá coragem ainda para novos sacrifícios. O que é repelente é pretender enganar o povo e o que é repugnante e inaceitável é decretar aperto de cinturão só para os pobres…

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