Quinta-feira, 10.9.1981
Meus queridos amigos
Mais uma vez me perguntam, em carta, a quem mais admiro: quem quebra, mas não verga, ou quem verga mas não quebra. Temos que examinar a questão devagar e usando a cabeça. Há ponto em que não se pode ceder, em que não se pode vergar. Não estou pensando em caprichos. Não estou pensando em radicalizações sem razão e sem base. Quando se trata de princípios, de valores perenes, criados não pelos homens, mas pelo próprio Deus, não se pode ceder, não se pode vergar. Há circunstâncias em que entre a morte física e a morte moral, nem se pode discutir: mil vezes pior é morrer moralmente, é ser um vivo-morto. Vergar, sem quebrar, é válido e belo quando se tem resistência para não quebrar, e a gente se verga, por exemplo, para sustentar a esperança do povo. Cada vez mais eu creio na não violência ativa.
Cada vez sonho com o meu povo unido, sem ódio, sem violência, não para pisar direitos dos outros, mas para não permitir que ninguém venha pisar direitos que não são presentes nem do governo, nem dos ricos, mas do próprio Criador e Pai. Não vacilo em aconselhar nossa gente sofrida a não aceitar provocações. Se o povo partir para a ignorância, partir para a violência, a reação será tremenda, brutal.
As armas do povo são diferentes. As armas do povo são a união do povo para o bem, são a fé em Deus, a crença na justiça e a certeza de contar com a Igreja de Cristo, decidida sempre mais em sua opção pelos pobres. Hoje, não falta quem acuse a Igreja de agitadora. Um dia, quem hoje nos acusa de maneira totalmente injusta, talvez se arrependa, vendo que o nosso papel, se não é de fazer o jogo dos opressores, não é de modo algum de incitar quebra-quebra, de encorajar violência.
Não é fácil a não violência ativa. O povo já está tão cansado, tão revoltado, que nós que não abrimos mão e não abriremos da não violência, temos dificuldades enormes. Só para dar um exemplo: Fala-se de invasões e a Igreja é acusada de insuflar os invasores. Por que quem se alarma com as invasões não se dá ao trabalho de ver que invasão já é consequência da violência e do absurdo de expulsões desumanas, injustas e anticonstitucionais! Mas o direito de propriedade exige um sentido social. E direito de propriedade existe para todos, pois Deus criou a terra para todos.