UM OLHAR SOBRE A CIDADE: NÃO À VIOLÊNCIA

 
Terça-feira, 3.5.1977
 
Meus queridos amigos em uma coletânea da Editora Vozes, em um livro intitulado Jovem Sempre — texto de Rose Marie Muraro e diagramação de João Lauro — encontrei, ao lado de um quadro muito expressivo, este comentário: “Para que pular o muro se há uma porta? Para que arrombar uma porta se ela tem uma chave? Para que sermos agressivos se podemos amar?” Em tese, estou 100% de acordo, mesmo porque estou de cheio nos movimentos de Não Violência. Mas é fundamental para a Não Violência a coragem de enfrentar a complexidade da vida. Não adianta nos enganarmos e tentar enganar os outros. “Para que pular o muro se existe uma porta?” Às vezes o que existe é muro e apenas muro. E muito protegido com arame farpado, por vezes até com eletricidade ligada, capaz de fulminar. “Para que arrombar a porta se ela tem uma chave?” E quando a porta está fechada e a chave perdida? E quando a porta está com trancas de ferro impossíveis de quebrar?
 
A Não Violência seria simples, não teria o mais leve problema, se todos os muros tivessem portas e todas as portas tivessem chave, chave à mão, chave fácil de fechar e abrir. A Não Violência em um mundo de violência é desafio perene à inteligência, ao senso de medida, à habilidade, à argúcia. A Não Violência não pode ser desleal, não pode ser infiel a si mesma, tem que ser, a um tempo, calma e firme, suave e corajosa. “Para que sermos agressivos se podemos amar?” A Não Violência tem experiência larga. Sabe que muitas e muitas vezes o amor é 100 repelido e ultrajado. Mas quando a Não Violência é fiel a si mesma, morre, mas não mata. E quando os ingênuos imaginam que morto o líder da Não Violência, a própria Não Violência está morta, se vê que Gandhi, Martin Luther King e tantos outros estão mais vivos do que nunca. Além do que, se formos fieis à esperança, Deus fará milagres para a vitória do amor!

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