UM OLHAR SOBRE A CIDADE: O DINHEIRO NÃO COMPRA TUDO

 
 
Segunda-feira, 3.6.1974
 
Meus queridos amigos
 
Vamos abrir a semana, meditando um instante sobre dinheiro. Tenho, diante de mim, uma cédula de um cruzeiro, outra de cinco, outra de dez, outra de cinquenta, outra de cem e uma de quinhentos cruzeiros. Por quantas mãos já passaram estas notas de um, de cinco, e de dez cruzeiros! A de um cruzeiro anda muito decadente: até os pobres já custam a conformar-se com um cruzeiro, porque sabem que quase nada se pode fazer com ele…
 
Atrás de notas de cinquenta e de cem, quanta gente trabalha, se cansa, e luta! Nota de quinhentos, muitos nem sabem que existem.
 
Muitos nunca puseram nem jamais irão pôr a mão em cédula de quinhentas pratas…
 
E pensar que há pessoas que, com amigos, visitantes, namoradas, esposa, em uma noite alegre, por exemplo, de boate, gastam o que toda uma família não tem, muitas vezes, para gastar em um mês.
 
Podem ler o capítulo 2 da carta que o Apóstolo escreveu e está no Novo Testamento, ao lado dos Evangelhos.
 
Mas vejo, todos os dias, o dinheiro fracassar em dois pontos essenciais: diante da morte e para a conquista do verdadeiro amor.
 
Adoece o pobre e adoece o rico. O pobre fica no desespero de achar que se tivesse dinheiro, e pudesse trazer médico e remédios, a filha não morreria ou a esposa haveria de salvar-se. O rico tem dinheiro, há juntas de médicos, pilhas de remédios, balões de oxigênio, mas quando chega a hora de partir, o rico vai, como o pobre. Não adianta encher o caixão de dinheiro, nem levar a carteira de cheques no bolso. No encontro com Deus, o único dinheiro que vale é o bem praticado aqui na terra…
 
Quanto ao verdadeiro amor, quantas vezes tenho ouvido esposas ricas dizerem: “Para que tanto conforto e tanto luxo, se eu não tenho o principal: a compreensão e o amor de meu marido, e a paz com os meus filhos?”.
 
Não vamos também pensar que o dinheiro é maldito e é criação do diabo. Quando o dinheiro não faz a pessoa perder a cabeça, quando não entontece, quando não embriaga, quando não transforma o dono em escravo, quando o dinheiro é bem usado, pode prestar serviços maravilhosos.
 
Quantas vezes, segurando uma nota de cem cruzeiros, um rico pensa em quanta gente sua, se cansa, se mata, para levar para a casa o salário mínimo?
A que conclusões chegar?
 
Andam com dinheiro folgado? Atenção para não perderem a cabeça!
 
Se distraírem-se, o dinheiro passa de servo a senhor… Cristo diz, com razão como sempre, que o nosso coração está onde está nosso tesouro…
 
Andam sem dinheiro? Tem passado pelo esmagamento de ver a fome entrar de casa adentro? Não desanime, não se amargure, não se irrite. Há muita gente que sem ódio nem violência, sem sombra de terrorismo, está trabalhando no mundo inteiro as claras, lealmente, por um mundo mais justo e mais humano.
 
Há quem ria desses sonhadores: eu os levo a sério. Não há país dentro do qual não surjam grupos decididos a quaisquer sacrifícios para que se tenha um mundo mais respirável e para todos. Claro que Deus está ajudando e ajudará.
 
* O Livro Meus Queridos Amigos reúne 200 crônicas lidas por Dom Helder em seu programa de rádio UM OLHAR SOBRE A CIDADE. Encontra-se à venda na livraria do IDHeC, assim como o CD contendo vinte crônicas lidas na voz de Dom Helder.Clique aqui e saiba mais: LIVRARIA

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