por Geraldo Frencken
Há dezoito anos, no dia 27 de agosto, despediu-se de nós
DOM HELDER CAMARA
Recordamos a sua infinita CONFIANÇA EM DEUS, que para ele significava “crer na aventura do amor, jogar nos homens, pular no escuro!”. Dom Helder se sustentava por uma profunda espiritualidade. Não uma espiritualidade supranatural e sim aquela que se baseia no Deus que “ouve o clamor e conhece os sofrimentos do povo e por isso desce para libertá-lo.” (cf. Êxodo 3). Essa espiritualidade parte da vida real do povo, principalmente dos empobrecidos e excluídos, que se revigora na sua infinita capacidade de levantar-se sempre, a fim de sair da situação de “sub-habitação, sub-trabalho, sub-diversão, sub-saúde, sub-vida” sub-habitação, sub-trabalho, sub-diversão, sub-saúde, sub-vida” (Sinfonia dos dois mundos de Dom Helder Camara). Espiritualidade esta, inspirada na e fortalecida por uma fé inabalável no Deus–Amor, deixando-se modular por este Deus-Pai carinhoso. Por isso e ao mesmo tempo, no centro do pensar, rezar, sonhar e agir do Dom estava o ser humano com seus valores e que “ele olha em seu rosto, em especial no rosto dos mais pobres, gastos pela fome, esmagados pelas humilhações, descobrindo neles o rosto do Cristo Ressuscitado!” Aquele ser humano que ele gostava de abraçar para passar-lhe calor e proteção.
Recordamos, simultaneamente, sua infinita confiança no povo, como ele expressava em 1970, época da ditadura militar – tempos sem liberdade: “É preciso ajudar verdadeiramente – e eu adoro essa expressão – a promoção humana. Pois devemos encorajar. Não é nossa tarefa carregar as massas, mas é preciso encorajá-las. Então elas tomam coragem e isso é maravilhoso! Acredito que conosco, sem nós, contra nós, as massas vão abrir os olhos. As massas terão a consciência despertada!” Desta maneira ele encorajava o povo, dando esperança por tempos melhores. Estas palavras continuam a ter a mesma força nos dias atuais e, portanto, podem nos impulsionar hoje. É este o Dom em sua luta incansável por justiça e liberdade, a postura firme contra a ditadura militar, seu perseverante empenho pelos direitos humanos, o incessante combate à miséria, a sua opção radical por uma igreja serva e pobre.
Dom Helder nos deixou claro que confiar em Deus caminha junto com a confiança no povo, nos homens, nas mulheres e vice-versa: um lado não faz sentido sem o outro.
Que o exemplo do Dom continue vivo em nós, não somente em orações, belas palavras, comemorações, estátuas, e sim no nosso jeito de ser e viver.
Fortaleza, 25-08-2017,
Geraldo Frencken