UM OLHAR SOBRE A CIDADE: INFLAÇÃO

 
Quinta-feira, 15.7.1976
 
Meus queridos amigos
 
Quanto custa o feijão, a farinha e a charque? Quanto custa o café? E o açúcar e o pão? Por quanto, em nossa cidade, se aluga um quarto?
 
Subiu o preço do ônibus? Quem fracassar neste teste se envergonhe: será sinal de que está muito longe do sofrimento do nosso povo.
 
Tomei um táxi no dia exato do último aumento da gasolina. Gostei do motorista. Quando perguntei a ele como via a vida, disse: “Estou preocupado. Mas o que me agonia não é o aumento da gasolina.
 
Quem tem carro ou anda de táxi reclama do preço da gasolina, mas acaba se acostumando…” E comentou o velho motorista: “O que me dói é o aumento do fogão de gás. É o aumento que vai muito mais longe e deixa em situação impossível muita família pobre.”
 
Quando sobe o preço do uísque e o dos vinhos importados, quando sobe o preço dos perfumes ou dos charutos, ou mesmo o dos cigarros, não se compara com o aumento do preço do leite ou do pão. Leite é problema sério para as crianças. Pão é problema para todo mundo.
 
Vi uma senhora irritadíssima com um pobre. Ela deu um cruzeiro a ele. O pobre, sem grosseria disse: “Me de dois. Um cruzeiro não dá mais nem pra um café”. Ela tomou como afronta. Quis tomar o dinheiro que deu. Mas, salvo engano, ela não sabia que o cafezinho já passou de um cruzeiro.
 
Permitam que eu deixe aqui, com espírito fraterno, outros testes de humanidade e de espírito cristão:
 
— Se houve de sua parte o desejo de alugar um quarto para um pobre velho que esteja dormindo debaixo da igreja ou da marquise de algum edifício: Onde se encontra um quarto para alugar?
 
Quanto precisa pagar de fiança? Quanto custa o aluguel dos quartos mais baratos?
 
— Já se lembrou de algum dia visitar a casa em que mora sua empregada?
— Pegue um papel e um lápis. Imagine as despesas indispensáveis de uma família, de um casal e três filhos.
 
Com estas e outras numerosas perguntas a intenção não é atacar ninguém: nem Governo, nem ricos, nem ninguém… Não interessa blá-blá-blá. Agitação, subversão não resolvem. O importante é nós todos, do menor ao maior, nos convencermos de que o mundo assim não vai e de que é urgente, juntos, com o pensamento em Deus, trabalharmos para construir um mundo menos egoísta, mais justo, mais humano.

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