Dom Helder Camara assumiu a Arquidiocese de Olinda e Recife menos de duas semanas depois de instaurada a ditadura militar no Brasil que, ao longo dos anos, tornou-se mais implacável em suas perseguições e torturas a quem lhe fazia oposição.
Empenhado como era, em defender o direito à vida de cada cidadão, de cada cidadã, seus irmãos e irmãs, além de sair pelo mundo denunciando as atrocidades praticadas no país pela ditadura, criou, em 1977, a Comissão de Justiça e Paz, importantíssima para a defesa dos presos políticos e perseguidos pelo regime militar. Sua atuação era uma forma de promover os direitos humanos – direitos sociais, civis e políticos, assim como os direitos econômicos, culturais e ambientais-, à luz da doutrina social da Igreja.
Também se envolveu na luta contra o extermínio de menores delinquentes no Grande Recife e implantou o Plano das Zonas de Interesse Social – PREZEIS, para a questão do uso do solo urbano.
Ao ser desfeita em 1985, por dom José Cardoso, então arcebispo de Olinda e Recife, seus membros fundaram o CENDHEC – Centro Dom Helder Camara de Estudos e Ação Social, uma organização não governamental que, até hoje, atua, com competência e empenho em duas áreas muito importantes para a população carente: o direito à cidade e a defesa dos direitos da criança e do adolescente.
Mas, o atual arcebispo de Olinda e Recife, dom Fernando Saburido, percebeu a necessidade de ter, a cargo da própria Arquidiocese, uma comissão que atue na defesa dos direitos humanos de uma maneira mais ampla. E, por isso, decidiu por refundar a Comissão de Justiça e paz.
A Comissão de Justiça e paz será coordenada pelo diretor presidente do IDHeC – Instituto Dom Helder Camara, Antônio Carlos Maranhão. A missão da Comissão que ressurge é a mesma de quando foi fundada há 40 anos, sob a supervisão de Dom Helder: a promoção dos direitos humanos.
Compõem ainda a CJP o jornalista Jailson da paz, o advogado e ativista dos direitos humanos Marcelo Santa Cruz, a Ir. Aurieta, fundadora da Turma do Flau, na comunidade do Bode, em Brasília Teimosa, Maria Luíza Alessio, educadora e ex-secretária de Educação da PCR, a médica Cláudia Miranda, Valmir Assis, do Movimento de Trabalhadores Cristãos-MTC, Pe. Fábio Santos, assessor da comissão de Ecumenismo e Diálogo Inter-religioso da Arquidiocese, mais conhecido como Fábio Potiguar,Enildo Luiz Gouveia, diácono Antônio Sebastião de Oliveira, Luciana Soares Valença, Cláudio Soares de Oliveira Ferreira, João Filipe Santos da Silva Xavier, Miguel Espar Argerich e Xavier Uytdenbroer.
A refundação aconteceu nesse quinta-feira, 25 de maio, na igreja de São José dos Manguinhos, nas Graças, tendo como homenageado o padre Antônio Henrique, assassinado há 48 anos, vítima da ditadura militar.
Foi um momento histórico para todo o povo da Arquidiocese de Olinda e Recife que ver renascer o sonho de Dom Helder Camara através de seu sucessor, ordenado por ele, Dom Fernando Saburido.
A cerimônia foi aberta por Pe. Fábio Potiguar que citou trechos da música “O Profeta” como uma forma de expressar aquele momento tão importante e significativo: “Como calar, se Tua voz arde em meu peito?”. Para ele um dos objetivos da CJP é ser a voz dos leigos na Igreja.
A composição da Mesa foi feita por: dom Fernando Saburido, dom Antônio Tourinho Neto, bispo auxiliar da Arquidiocese, Ronnie Duarte, presidente da OAB/PE, Francisco Sales, procurador da Justiça do Ministério Público de Pernambuco, Lucinha Moreira e Antônio Carlos Maranhão, diretores do IDHeC e Roberto Franca, secretário estadual de Desenvolvimento Social, ex-diretor presidente do IDHeC.
Acompanhando atentamente a solenidade podiam ser vistos vários colaboradores, seguidores e amigos de Dom Helder, que testemunharam, alguns na própria carne, um período que o nosso País não pode e não deve nunca esquecer, para que nunca mais volte.
Registramos ainda s presenças do Pe. Pedro Rubens, reitor da Universidade Católica de Pernambnuco, Mons. Edwaldo Gomes, pároco da paróquia de Casa Forte, Pe. José Augusto, pároco da Matriz de São José e capelão da Igreja das Fronteiras, frei Aloísio Fragoso, membros da diretoria e Conselho do IDHeC, representantes de movimentos sociais, de pastorais da igreja, de grupos de leigos como Igreja Nova, Encontro da Partilha, Fé e Política Dom Helder Câmara, CEBI e Articulação de Leigos Cristãos, membros do clero e representantes de outras denominações religiosas.
Representando o Governo do Estado de Pernambuco, Roberto Franca, que atuou como membro da Comissão Estadual da Memória e Verdade Dom Helder Camara, explicou que foi ex-aluno do saudoso padre Henrique, no colégio Nóbrega e fez uma breve explanação sobre a biografia do padre assassinado e encontrado morto com sinais de tortura.
Em seu discurso de posse o coordenador da Comissão, Antônio Carlos, disse que: “No período de 1974 a 1979, os veículos de comunicação eram proibidos de publicar o nome e imagens de dom Helder Camara. Foi decretada a morte civil de dom Helder, o morto mais vivo que se tem notícia na história”. Disse ainda que “A nova Comissão de Justiça e Paz arquidiocesana pretende levar suas ações aos 19 municípios que compõem a Arquidiocese. Vamos trabalhar com os movimentos populares e sociais, camponeses, trabalhadores, pessoas feridas em sua dignidade”.
Para Antônio Carlos o foco da comissão será articular o trabalho em rede junto aos organismos garantidores dos direitos humanos, em parceria com o poder público, com a sociedade civil organizada, para que os direitos humanos sejam garantidos e caso sejam violados, possam ser reparados na circunscrição da Arquidiocese de Olinda e Recife. Concluindo sua fala ele falou: “Há momentos em que não é lícito calar, quaisquer que sejam as consequências”.
Em sua fala Dom Fernando disse que é preciso manter sempre aberto o diálogo, em sintonia com a doutrina social da Igreja, para que a Comissão de Justiça e Paz cumpra o seu papel profético.
A ata de refundação da CJP com o nome de seus componentes foi lida pelo Pe. Moisés Ferreira, secretário arquidiocesano, que foi assinada pelo arcebispo que finalizou agradecendo a presença de todos.
A Comissão de Justiça e Paz terá sede na Arquidiocese de Olinda e Recife e está vinculada à Comissão Arquidiocesana de Pastoral para a Caridade, a Justiça e a Paz (Pastorais Sociais). Informações: (81) 3271-4270 (ramal 244).
O IDHeC parabeniza o arcebispo dom Fernando Saburido pela iniciativa de refundar a CJP , trazendo assim, de volta a esperança para os que são vítimas da injustiça e que, por não terem vez nem voz, careciam de serem representados na defesa de seus direitos.