O nosso querido amigo Pe. João Pubben, lá da Holanda, nos lembra um momento importante na história de nosso Dom: uma visita recebida no dia 18 de maio de 1987.
O bispo anglicano Desmond Tutu, prêmio Nobel da paz, como tantos outros defensores dos direitos humanos, ao passar pelo Recife, não poderia deixar de visitar Dom Helder, um ícone mundial na defesa dos sem vez e sem voz.
À época, foi o segundo ganhador do Nobel da Paz a visitar Dom Helder. O primeiro foi o argentino Adolfo Esquivel que visitou Dom Helder ainda quando era arcebispo de Olinda em Recife, em 1981. Esquivel ganhou o Nobel em 1980 por defender os direitos humanos em seu país, presidindo o Serviço de Paz e Justiça, uma representação do Movimento Internacional pela Reconciliação (MIR).
O bispo anglicano e sua esposa, Leh, foram recebidos no aeroporto, então dos Guararapes, por Dom Helder, que estava nos Estados Unidos e antecipou sua volta especialmente para receber o amigo. A alegria do reencontro era visível na maneira como os dois se abraçaram e sorriam.
Desmond Tutu ganhou o prêmio Nobel da Paz em 1984, por sua luta contra ao Apartheid na África do Sul. Sua vinda ao Brasil teve o objetivo de pedir ajuda do país na luta contra o racismo em seu país. Ele falou que Dom Helder era uma inspiração para os sul-africanos na luta em direção à reconciliação no país.
Citando o racismo, Dom Helder disse que todos precisavam vencer os preconceitos criados pelos próprios homens.
A visita de Tutu ao Brasil trouxe à tona o que na imprensa nacional sempre foi um tabu: a questão racial no Brasil. Apesar de não ter havido nenhuma “mea culpa” por parte da imprensa ou alguma mudança relevante em seu comportamento e do ministro das Relações Exteriores ter afirmado que no Brasil não havia problema algum em relação a racismo, o grito de protesto do Movimento Negro, à época, não teve como ser abafado.
Que a lembrança dessa visita nos anime a lutarmos cada vez mais contra todos os tipos de preconceito e escravidão e que, inspirados pelas palavras de Dom Helder, sejamos todos e todas sempre, em cada momento de nossa vida, portadores de cartas de alforria.
“Olhando em volta descobrimos ou não escravidões? Onde, quando e como ajudar a distribuir a irmãos e irmãs, gente como nós, filhos de Deus como nós, cartas autenticas de alforria?
Olhando dentro de nós, bem dentro, temos aparência de livres. Somos livres de verdade ou há escravidões pesando sobre nós e clamando pela riqueza de uma carta de alforria?”. Dom Helder Camara – outubro de 1976.