Quinta-feira, 9.1.1975
Meus queridos amigos
Consciência é luz que Deus nos deu e que somos obrigados a seguir.
Mas existe a obrigação de cada um, de acordo com suas posses, de procurar ter a consciência vendo claro e vendo certo. Vejam, através de exemplos práticos, a diferença entre consciência ingênua e consciência crítica.
A consciência ingênua não procura as causas nem as consequências dos fatos e dos problemas sociais. A consciência crítica está numa constante procura das causas e das consequências dos problemas.
A consciência ingênua aceita passivamente uma educação tradicional, baseada no seguinte espírito: Educador sabe tudo e deve mandar. O aluno não sabe nada e deve obedecer. A consciência crítica exige a participação plena do aluno na sua própria educação e luta para romper com a educação imposta de cima para baixo.
A consciência ingênua acredita que uns nasceram para dominar e outros para serem dominados. A consciência crítica acredita na fundamental igualdade dos homens e na urgência de acabar com a relação oprimidos-opressores.
A consciência ingênua acha que o essencial é vencer na vida. Tudo o mais deve ser posto a serviço deste fim. A consciência crítica acha que o problema principal é dar aos homens a possibilidade de ser gente de verdade.
A consciência ingênua não percebe que os meios de comunicação social (rádio, TV, cinema, jornais, revistas…) manipulam e massificam o povo. Silenciam ou deformam a verdade: criam um mundo artificial que só corresponde aos interesses dos que estão em cima.
A consciência crítica está numa constante atitude crítica diante dos meios de comunicação social. Acha que eles só podem desenvolver uma função libertadora na medida em que criticam a realidade claramente e levam o povo a assumir uma atitude ativa diante dos problemas.
A consciência ingênua acha que nas questões políticas o melhor partido é o da neutralidade, pois comprometer-se é perigoso. A consciência crítica sabe que meter-se em política é ocupar-se das causas do povo. Não tem medo de comprometer-se, pois considera o risco da luta mais vantajoso do que a escravidão do pacifismo.
A consciência ingênua acredita no mito do desenvolvimento econômico descrito pelas estatísticas. A consciência crítica acredita que o desenvolvimento só é verdadeiro quando atinge o homem todo e todos os homens.
A consciência ingênua possui uma visão estreita e superficial das relações entre os dois sexos. O amor é buscado apenas como um episódio. A mulher é considerada como um brinquedo. Homem e mulher se unem para se fecharem numa família.
A consciência crítica possui uma visão ampla e objetiva das relações entre os dois sexos. O amor é buscado para dar início a uma história arriscada a dois. A relação entre homem e mulher não é entre sujeito (o homem sabe, o homem pensa, o homem decide), e objeto (a mulher é uma coisa). Homem e mulher se unem para se colocarem juntos a serviço da justiça, como condição para a paz.
Viram a importância de passar de uma consciência ingênua para uma consciência crítica? Continuem a descobrir como diante dos acontecimentos da vida funcionam os dois tipos de consciência. E qual é o seu? Sua consciência é ingênua ou crítica?
Um comentário sobre “UM OLHAR SOBRE A CIDADE: CONSCIÊNCIA INGÊNUA E CONSCIÊNCIA CRÍTICA”
Essa crônica do Dom foi providencialmente escolhida para estes dias que antecedem as eleições. Não percamos tempo. Ainda há chance de formarmos uma consciência crítica.Näo nos deixemos manipular, por favor…