O carnaval está chegando. Escolhemos alguns texto de Dom Helder que falem, justamente, do carnaval.
3ª feira, 7,2,1978
Meus queridos amigos,
Um dia, em nosso programa, comentaremos as Canções mais cantadas neste Carnaval de 1978.
Há sempre Canções novas e é claro que algumas pegam e ficam… Há Canções que não são esquecidas nunca. As vezes, vê, de longe, de Carnavais que já se foram…
O Bal Masqué, salvo engano, abriu com “Máscara Negra”, o que não quer dizer que houvesse mais de mil Palhaços no salão…
Ninguém esquece a “Jardineira”, “Sassaricando” e tantas outras músicas que atravessam os anos…
Pode causar estranheza que, no meio de tanta gente, agrade tanto o Bloco da Solidão. É que ali, no meio da multidão, não falta quem se sinta só.
“Angústia, solidão
um triste adeus em cada mão
lá vai meu bloco, vai
só deste jeito é que ele sai.
Na frente sigo eu
levo o estandarte de um amor
amor que se perdeu no Carnaval…
Lá vai meu bloco e lá vou eu também
mais uma vez sem ter ninguém
no sábado e domingo, segunda e terça-feira
e a 4ª feira vem e o ano inteiro é todo assim…
Por isso quando eu passar
batam palmas pra mim!
Aplaudam quem sorri
Trazendo lágrimas no olhar,
merece uma homenagem
quem tem força pra cantar
tão grande é a minha dor
pede passagem quando sai comigo só,
lá vai meu bloco vai…
Daqui bato palmas a todos os que, de modo aberto ou oculto, pertencem ao Bloco da Solidão, e sorriem trazendo lágrimas no olhar…
Gosto muito do Porta-Estandarte, de Vandré:
“Olha que a vida é tão linda
e se perde em tristezas assim.
Desce teu rancho cantando
essa tua esperança sem fim.
Deixa que a tua certeza
se fala do Povo a canção
pra que teu Povo cantando
o teu canto não seja em vão.
Eu vou levando minha vida, enfim,
cantando e canto sim
e não cantava se não fosse assim
levando pra quem me ouvir
certezas e esperanças
pra trocar
por dores e tristezas
que, bem sei
um dia que vem vindo
e que eu vivo, pra cantar
na avenida girando
estandarte na mão pra anunciar!
Ah se eu pudesse! O meu Povo não precisaria esfalfar-se nos 3 dias de Carnaval! Virá o dia em que a alegria do Povo não será ilusória e passageira como serpentina e confete. Virá o dia em que não será mais preciso dizer:
“Tristeza não tem fim
felicidade, sim”.
A tristeza acabará…