Quarta-feira, 15.12.1982
Meus queridos amigos
Mais uma vez, ouvi comentar que, em nossos tempos, não dá mais para ninguém meter-se a manso… Não falta quem pense que, em nossos dias, de avanço em avanço, de ambição desmedida, de violência, quem se fizer de manso será devorado. Muito ao contrário.
Continua plenamente verdadeira a bem-aventurança de Cristo: “Os
mansos possuirão a Terra”.
Ao longo de toda a minha vida comprovo que a bondade não resolve tudo. Mas que se bondade não resolve, não é violência que vai resolver. Recebemos ensinamentos preciosos dos nossos pais. Mas, aqui e acolá, existiam pais que deixavam escapar conselhos que, hoje, da Casa do Pai onde se encontram, jamais repetiriam.
Há quem tome ao pé da letra, como regra intocável, o aviso paterno de não trazer desaforo para casa. Alguns pais chegavam a dizer: Se chegar em casa chorando porque apanhou na rua, apanha em casa, porque não soube reagir a altura. Não vacilo em pedir aos pais (pai e mãe de família): Não batam nos filhos.
Conheço mães que batiam no filho criança. Não notaram que o filho foi crescendo. Pretendem bater no filho adolescente. Acabam ouvindo o que não queriam ouvir. “A senhora veja que eu não sou mais criança. Acabe com esta história de bater. Um dia eu perco a cabeça e respondo a tapa com tapa…”
Pancada nem para animais! Se o pai acostumasse desde pequeninos a chamá-los para uma conversinha particular, sem sombra de castigos ou de pancadas, tudo seria diferente. O ideal é que quanto mais sério for o assunto, mais baixa e suave seja a voz. Comece dizendo que deseja que o próprio filho conte o que aconteceu. E estimule ao máximo a narrativa verdadeira, sem mentiras, sem defesa capciosa.
Depois de ouvir o filho ou a filha, diga o que espera deles. Lembre como estão crescendo. Como em breve terão que viver como adultos, sem painho nem mainha, claro, sem sombra de amas.
Quando a pessoa se vicia em armar barulho em toda parte — com os balconistas nas lojas, com os motoristas de táxis, com os trocadores nos ônibus, com os garçons nos restaurantes, com os vigias de apartamentos, para citar alguns exemplos — quando a pessoa cria caso onde chega, se esquece que muitas vezes, quem atende, atende mal, quem sabe está com as dívidas a pagar, problemas com o marido, com os filhos, com o namorado, problemas de saúde, de cansaço… E aí ganha fama de ser pessoa grossa, impaciente, respondona, criadora de casos.
O manso abre caminho, conquista simpatia e, além de ganhar o Céu, possuirá a Terra. Jesus, manso e humilde de coração, fazei nosso coração semelhante ao Vosso!
Um comentário sobre “UM OLHAR SOBRE A CIDADE: OS MANSOS POSSUIRÃO A TERRA”
Fiz dissertação de Mestrado sobre a espiritualidade de D. Helder. Em 1989 ainda conversei pessoalmente com ele e estive nas \”Obras de frei Francisco\”