UM OLHAR SOBRE A CIDADE: CONSCIENTIZAÇÃO POLÍTICA

 
Sábado, 1.4.1978
 
Meus queridos amigos
 
Quem ama, de fato, a democracia, não pode temer a conscientização.
 
Conscientização não é despertar de consciência crítica? Como é possível chamar de comunista a quem se entrega ao trabalho de conscientizar, se o comunismo, ditadura de esquerda, teme tanto a conscientização quanto as ditaduras de direita? Nosso povo está cantando:
 
“Eu quero, quero, quero ouvir a voz do povo
Eu quero ver todo mundo acordar
E descobrir dentro da realidade
Que a semente da verdade
Está querendo germinar.
Eu quero, quero, quero ouvir a voz do povo
Eu quero ver todo povo como irmão
Eu quero ver todo povo caminhando
Se libertando do medo que tem de tubarão
Eu quero, quero, quero ouvir a voz do povo
Todo povo tem boca pra falar
Ainda tem gente que se faz de muda
Fica num canto calada e sem se mexer do lugar
Eu quero, quero, quero ouvir a voz do povo
Ouvi um grito, mas não sei de quem foi
Grita sem medo, grita, grita minha gente
Quem morre calado é sapo debaixo do pé do boi
Eu quero, quero, quero ouvir a voz do povo
Quero ver todo o povo em união
A consciência não se ganha sem esforço
Vamos abrir nossos olhos pra enxergar a situação
Eu quero, quero, quero ouvir a voz do povo
O povo não é mais caranguejo
Eu quero ver todo povo consciente
Descobrindo que é gente e caminhando pra frente.”
 
Só pode haver desenvolvimento autêntico com a participação do povo. E o povo só participa de olhos abertos e consciência desperta.
 
“Quem morre calado é sapo, debaixo do pé do boi.” E não se trata apenas de morrer gritando. Trata-se de evitar que haja pés de bois esmagando criaturas humanas como se fossem sapos. “O povo não é mais caranguejo.” Caranguejo anda pra trás. “Eu quero ver todo povo  consciente, descobrindo que é gente e caminhando pra frente.”
 
Que venha o quanto antes o dia em que, de fato, o povo todo acredite que não é lixo, não é coisa, não é objeto, não é bicho, é criatura humana, é filho de Deus! A gente ensina que o povo tem boca pra falar. A gente ensina “Trabalho e Justiça para Todos”. É preciso que o povo fale e seja escutado. Que o povo clame por seus direitos e seja ouvido.
 
Justiça não pode ser, não deve ser somente para quem pode pagar advogado. Quando veremos, de verdade, o povo caminhar pra frente?
 
Que há progresso há… Mas não para todos. Não para o povo.
 
O querido povo ainda é muito caranguejo, ainda anda é pra trás.
 
Vamos nos unir para apressar a hora em que, como gente, o povo caminhe para frente!

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