INVOCAÇÃO À MARIAMA


No dia 20 de novembro de 1981 era celebrada no Recife para um público de 8 mil pessoas, a Missa dos Quilombos. A celebração foi criada por criada por Dom Pedro Casaldáliga e Pedro Tierra, com música de Milton Nascimento. O ato religioso denunciou as consequências da escravidão e do preconceito no Brasil e se transformou numa cerimônia de fé, comunhão, música e ritmo, a partir da atitude revolucionária de membros da Igreja em favor da introdução das referências culturais de diferentes povos na eucaristia.

Durante a celebração Dom Helder recitou a sua Invocação à Mariama que postamos hoje, em homenagem a Mãe de todas as mães, a nossa Mãe Maria.




Mariama, Nossa Senhora, mãe de Cristo e Mãe dos homens!

Mariama, Mãe dos homens de todas as raças, de todas as cores, de todos os cantos da Terra.


Pede ao teu filho que esta festa não termine aqui, a marcha final vai ser linda de viver.

Mas é importante, Mariama, que a Igreja de teu Filho não fique em palavras, não fique em aplausos.

O importante é que a CNBB, a Conferência dos Bispos, embarque de cheio na causa dos negros. Como entrou de cheio na pastoral da terra e na pastoral dos índios.  Não basta pedir perdão pelos erros de ontem. É preciso acertar o passo e hoje sem ligar ao que disserem.

Claro que dirão, Mariama, que é política, que é subversão, que é comunismo. É Evangelho de Cristo, Mariama.





Mariama, Mãe querida, problema de negro acaba se ligando com todos os grandes problemas humanos. Com todos os absurdos contra a humanidade, com todas as injustiças e opressões.

Mariama, que se acabe, mas se acabe mesmo a maldita fabricação de armas. O mundo precisa fabricar é Paz.

Basta de injustiças! De uns sem saber o que fazer com tanta terra e milhões sem um palmo de terra onde morar.

Basta de uns tendo de vomitar para comer mais e cinquenta milhões morrendo de fome num ano .

Basta de uns com empresas se derramando pelo mundo todo e milhões sem um canto onde ganhar o pão de cada dia.

Mariama, Senhora Nossa, Mãe querida, nem precisa ir tão longe, como no teu hino.

Nem precisa que os ricos saiam de mãos vazias e os pobres de mãos cheias. Nem pobre nem rico!

Nada de escravo de hoje ser senhor de escravo de amanhã. Basta de escravos. Um mundo sem senhor e sem escravos. Um mundo de irmãos.

De irmãos não só de nome e de mentira. De irmãos de verdade, Mariama.

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