No dia Internacional do Trabalhador, Dia do Trabalho e Dia do Trabalhador, relembramos uma das crônicas de Dom Helder Camara lida em seu programa diário UM OLHAR SOBRE A CIDADE, no dia 2 de outubro de 1981.
Esta crônica pode ser encontrada, ao lado de mais 199, no livro lançado recentemente pela CEPE, MEUS QUERIDOS AMIGOS.
Meus queridos amigos
O Santo Padre João Paulo II havia preparado a sua Encíclica sobre o trabalho humano, para ser publicada no dia 15 de maio próximo passado, comemorando 90 anos da Rerum Novarum34 de Leao XIII.
Dada a permanência dele no hospital, o querido João de Deus guardou sua Carta para a Festa da Exaltação da Santa Cruz, no dia 14 de setembro passado, terceiro do seu pontificado. O jeito é ler a Carta do Santo Padre. O trabalho sai altamente dignificado da Laborem Exercens 35 e mais ainda o homem, que a Encíclica prova que é sempre o sujeito do trabalho.
Reparem como, a partir da noção de trabalho, a Encíclica prova que raízes materialistas não são privilégios do comunismo, pois o capitalismo cai também no materialismo. É urgente ler e reler o que diz o Papa sobre o direito de propriedade: “A tradição cristã nunca defendeu o direito de propriedade como algo absoluto e intocável.
Pelo contrário, sempre o entendeu no contexto mais vasto do direito comum de todos utilizarem os bens da criação inteira: o direito de propriedade privada está subordinado ao direito ao uso comum, subordinado a destinação universal dos bens”.
Mais adiante diz a Encíclica: “Continua sendo inaceitável a posição do capitalismo rígido, que defende o direito exclusivo da propriedade privada dos meios de produção, comum dogma intocável na vida econômica. O princípio do respeito ao trabalho exige que tal direito seja submetido a uma revisão construtiva, tanto em teoria como na prática.”
Procurem o que relembra a Encíclica sobre trabalho e capital, sobre a necessidade da reordenação e novo ajustamento das atuais estruturas, sobre a Comissão de Justiça e Paz, sobre guerra nuclear, sobre a chaga do desemprego e a responsabilidade do governo no tocante a desempregados, sobre sindicatos, sobre direito de greve, sobre o trabalho agrícola e a reforma agrária, sobre multinacionais…
É tão bom, tão importante, tão agradável ouvir o Papa provar que a Igreja confia no homem, que o trabalho foi feito para o homem e não o homem para o trabalho, sobre a verdadeira promoção da mulher e a missão materna exclusiva da mulher… É empolgante ver a Encíclica provar como o problema que outrora era problema de classe, hoje adquiriu dimensões de problema de mundos…
Claro que a Encíclica não esquece a espiritualidade do trabalho.
Lida e meditada com calma, sem paixão, como se ouvíssemos o nosso Joao do Deus em sua passagem inesquecível pelo Brasil, a Encíclica pode fazer um grande bem às pequenas comunidades e ao governo, aos trabalhadores, aos professores, aos jovens, a católicos, e não católicos, cristãos e não cristãos, crentes e descrentes.
Deus seja louvado!