Hoje, 07 de fevereiro, celebramos os 107 anos da vida de Dom Helder. E, nada melhor para lhe prestar uma homenagem, do que este texto, enviado pelo nosso querido Pe. João Pubben, lá da Holanda.
Foram muitos, os encontros…
O primeiro, em um dia de maio de 1968; tinhaele 59 e eu29 anos. O último, no dia 27 de agostode 1999; ele com90, eu com60 anos de idade.
Emalguns momentosdifíceis e decisivos de minha vida Dom Helder foi de sumaimportância. Anualmenteele visitava nossaComunidade Cristã de São Vicente de Paulo em Dois Unidos, porocasião da Festado Padroeiro, dentroda programação da Campanhada Fraternidade ouem outras ocasiões.
Sempre nosencontramos por motivode celebrações, reuniõese eventos. Euparticipava regularmente da Eucaristia que ele celebrava, emdias de semana, às 6 horas na Igrejadas Fronteiras e tomava, em seguida, em sua casinha o café da manhãcom ele.
Em1994, já vivendo 85 anos, a saúde de DomHelder começou a enfraquecer. Respondi positivamente a umpedido seupara ajudá-lo umpouco. Entrejulho de 1994 e agostode 1999 me dirigi nas tardes das terças e quintas-feiras e nas manhãs dos domingos(e às vezes aindaem outrosdias) à suaresidência paraconcelebrar comele a SantaMissa (comoele gostava de chamara Eucaristia). Durantea semana, na casinha dele em torno da mesa com alguns colaboradores e amigos; aos domingos e emdias de festa, na Igreja das Fronteiras, geralmente repletade irmãs e irmãos fiéis. Guardo um relatoriozinho queindica que foram, entre25 de julho de 1994 e 25 de julho de 1999, 741 celebraçõeseucarísticas. Depois houve ainda 9 missas, acontecendo a última na terça-feira 24 de agostode 1999. Nesses anos, também, acompanhei o Domnumerosas vezes emcelebrações, encontros, comemorações e festividades nas cidades de Recifee Olinda. No último diade sua vidapermaneci durante longotempo ao ladode sua cama, segurando a sua mãoe, vez poroutra, colocando minhamão sobresua testa. Tive, então, oportunidadede agradecer o muitoque medeu…
Poucas horas após seu falecimentocelebrei com amigose colaboradores a primeira Missa de corpo presente.
Enumero, em seguida, dez realidadesna vida de DomHelder que, atravésdos anos, metocaram.
DomHelder era uma pessoaem quemcontemplação e açãotiveram todas as chances. Ele vivia as duas emgrande equilíbrioe profunda ligação. Muito se falou e se escreveu sobre seu agir. Graças a Deus! As pessoasque viveram bemperto dele, sãounânimes ematestar que tudo o quefazia, nascia de reflexão e era sustentado pororação.
Quãogrande foi a fédo Dom! Muitas vezes, vendo-o e ouvindo-o, pensei: “Essa deve ser a fé que move montanhas, sobrea qual falao evangelho”. Emmais de uma ocasiãome sentei à suamesa comdúvidas, quedesapareciam quando eleme falava.
O Dom nãorezava a Missa, nãopresidia a Celebração; ele vivia a Eucaristiaintensamente e esta perdurava o dia todo. Diz ele em uma de suas meditações: “Quando nãoestou na Santa Missa, me preparo para este ponto alto de meu dia ou vivo em ação de graças porque o ponto alto já passou”.
DomHelder era umhomem livre. Claro quevivia, como nós, dentro das estruturasda Sociedade e da Igreja, porém, parecia queas mesmas para elenão existiam, emboraele tenha sofrido umbocado porcausa de um determinado funcionamentodelas. Mas, elasnão o derrubavam. Elenão tinhamedo delas. Durantesua visitaao Recife, DomJacques Gaillot, bispo de Partênia, dizia: “Quando a gentetem medo nãoé livre, e quandoé livre provoca medo”.
Sempretive a impressão queDom Helder procurava e descobria o cerne das realidades, deixando de lado o supérfluo. Ganhava, assim, muitotempo e muitaenergia parase dedicar ao querealmente importava.
Parecia que dificuldadesnão desanimavam o Dom, mas – antes– o convidavam a se jogar na lutapara vencê-las.
DomHelder era umhomem cheiode compreensão. Escutava os sofrimentos e as dificuldades de suas irmãs e seusirmãos maiscom o coraçãoque comos ouvidos. E, paraconfortá-los abria, também, mais o coração que a boca!
DomHelder era misericordioso. É do conhecimento de todosque elesofreu bastante porparte dos poderososdo Mundo e da Igreja. Muitíssimas vezes elefalou forte contramuitas formas do mal, mas inutilmente se procurará em seus numerosos escritospalavras duras contraas pessoas quecausavam o mal. A elas, o Dom soube perdoar.
O Dom amava a vida, “o sonho maislindo de Deus” – como cantapadre Reginaldo Veloso. Ele se entristecia profundamentequando a vida, tanto nas Sociedadescomo nas Igrejas, era machucada, ferida, pisada, explorada, marginalizada e colocou todaa sua longaexistência a serviçoda vida, ajudando a vidaa desabrochar, dando chancesà vida, zelando pelavida, protegendo, defendendo e promovendo a vida.
O Dom eramuito amável, tão humano. Permitam-me três exemplospessoais.
* Umdia após o martírio do PadreAntônio Henrique Pereira Neto (27-5-1969), fui internado no HospitalPedro II no Recife e submetido a uma cirurgia. Apesardas grandes preocupaçõesque teve naqueles diasdolorosos, o Domfoi um dos meusprimeiros visitantes apósa operação. *Em30 de abril de 1970 viajei, pela primeira vez depois de cinco anos, em férias à Holanda. No dia anteriorme despedi do Domem suacasa. Mas, pouco tempoantes do embarqueapareceu ele no aeroportodos Guararapes para darmais umabraço de boas férias e elenão se esqueceu de mandaruma fraterna saudaçãopara meus Pais que, um mês mais tarde, abraçou cordialmente na minha terra natal.
* Em1996 tive uma gripe tãoforte quepedi a um colegapara concelebrar com Dom Helder no domingo 19 de maio. Qual minhasurpresa quando, na tarde do mesmodia, o Dom– na companhia de suasecretária e de suaenfermeira – aparecia em nossa casa em Dois Unidos, fazendo uma visita amigae trazendo uma lata cheiade confeitos holandeses, explicando que eram muito bons contra a gripe, pois – dizia ele – “vem da queridaHolanda”.
Paraminha tentativade viver comogente, cristãoe padre o Domcontinua oferecendo fortes exemplos…
Se membros da Congregaçãoda Missão quiserem se inspirarnele, em suavida, emsua missão, o Dom – semdúvida – os abençoará!
QueDom Helder PessoaCamara viva parasempre felizno Silêncio de Deuse que nóscaminhemos na Paz do Senhore na Fraternidade das Irmãs e dos Irmãos.
João Pubben