O DOM E EU: 65 ANOS DE ORDENAÇÃO DE DOM LAMARTINE E OUTRAS COMEMORAÇÕES

Hoje, 29 de outubro, há várias datas a se celebrar, como os 65 anos de ordenação de Dom Lamartine,  os seis anos da reabertura da Igreja das Fronteiras e da inauguração do Espaço Dom Lamartine.
 
E quem melhor para falar sobre essas datas, sobre Dom Lamartine e sobre Dom Helder, do que o nosso estimado Padre João Pubben, através da homilia que nos enviou diretamente da Holanda?
 
 
Homilia por ocasião da reabertura da Igreja das Fronteiras e da inauguração do “Espaço Dom José Lamartine Soares”, durante o primeiro centenário de nascimento de Dom Helder Camara.
 
Irmãs e Irmãos,
 
Paz e Alegria para todos Vocês!
 
Nosso querido e saudoso centenário Dom colocou a Eucaristia – a Santa Missa, como ele gostava de dizer – no centro de sua vida.

Só para lembrar.  Em 14 de marçode 1964, dia emque foi anunciada suanomeação para Arcebispo de Olinda e Recife, escreve elede Roma para seugrupo amigono Rio de Janeiro: “Deus mefaz a graça de estendero dia inteiroa Santa Missa: ofertório de 24 horas, consagração perene, comunhão comtudo e comtodos”.  Em uma de suasmeditações lemos: “Quandonão estou na Santa Missa, me preparo paraeste ponto alto de meu dia ou vivo em ação de graças porque o ponto alto jápassou”.
 
Nós estamos vivendo esta Eucaristia em ação de graças neste ano especial para o Instituto Dom Helder Camara e para numerosas irmãs e irmãos em várias partes do Brasil e do Mundo, no dia do quinquagésimo nono aniversário da ordenação sacerdotal de Dom José Lamartine Soares, homem fino, irmão de verdade, cristão decidido, padre do Evangelho, bispo “bom pastor” (29.10.1950). Ele caminhou com Dom Helder, como irmão – auxiliar, do primeiro ao último dia do tempo em que o Profeta foi arcebispo de Olinda e Recife (1964/1985).
 
Em sua mensagem de despedida como arcebispo “Sinais dos Tempos, Sinais de Deus”, de 15 de julho de 1985, Dom Helder diz: “. . . Dom Lamartine, irmão que Deus me deu e que nestes 21 anos, como meu Auxiliar, foi de uma fidelidade perfeita, de uma dedicação sem limites, a ponto de se poder dizer que fomos juntos Arcebispo de Olinda e Recife e, talvez, ele ainda mais do que eu. . .”.
 
Dom Marcelo Carvalheira, em sua homilia durante a missa de corpo presente de Dom Lamartine, no dia 19 de agosto de 1985, comparou a integração entre os dois bispos ao círio pascal: Dom Helder era a luz que irradiava pelo Brasil e pelo Mundo, Dom Lamartine era a cera e o pavio que mantinham a luz acesa. Não é possível a luz, o brilho sem o mistério da consistência, da fidelidade de uma cera e de um pavio resistentes.
 
No Comunicado Mensal da CNBB de 31 de agosto de 1985, escreve Dom Antônio Soares Costa: “Como Bispo – auxiliar de Dom Helder, Dom Lamartine compreendeu que sua missão não era fácil, mas num clima de verdadeiro afeto colegial soube complementar a ação pastoral do Arcebispo de Olinda e Recife. Ele colaborou em tudo, sem deixar de ser ele, com suas qualidades e seu modo de pensar, tendo em Dom Helder um amigo, e um amigo até o fim. A prova disto é que nunca aceitou ser transferido, enquanto Dom Helder estivesse no governo da Arquidiocese”.
 
Dom Helder fez desta Igreja das Fronteiras, desde 1968, uma Igreja sem Fronteiras, e ouso pensar que ele o conseguiu, em grande parte, haurindo amor e carinho, visão e sabedoria, respeito e admiração, compaixão e solidariedade, compreensão e perdão de sua vivência autêntica da “Santa Missa”.
 
Apóstolo de Jesus e discípulo de Francisco de Assis e Vicente de Paulo, ele ultrapassou fronteiras nacionais e eclesiais. Há 39 anos, em maio de 1970, ouvi, na cidade de Venlo na Holanda, alguém dizer em bom holandês o que traduzo literalmente em português: “Este pequeno brasileiro é grande demais para o Brasil”. Em fevereiro de 1999, mês em que o Dom completou 90 anos, padre Manfredo de Oliveira, por ocasião da abertura da Campanha da Fraternidade daquele ano, na loja das Paulinas em Fortaleza, falou: “Dom Helder não cabe na Igreja; ela é pequena demais para ele”.
 
Que nosso templo, belamente restaurado, abra corações e mentes de todos que o visitam – ou para celebrar sua fé na Eucaristia ou para reverenciar a memória de Helder Camara – para que trilhem, mais e melhor, os caminhos de Jesus, os caminhos de Helder.
 
No dia 18 de julho de 1959, durante uma solene Missa, no santuário da Medalha Milagrosa em Matoso no Rio de Janeiro, presidida pelo cardeal Jaime de Barros Câmara, por ocasião da abertura das festividades dos 300 anos da morte de Vicente de Paulo, nosso Dom fez a pregação. O que ele então falou sobre Vicente, podemos tomar emprestado agora para falar sobre a dupla Helder/Lamartine. Eles não precisam de nossos elogios e o que realizaram é bastante conhecido. Melhor será perguntar a nós mesmos: “O que faria Helder, o que faria Lamartine, o que fariam estes dois Bons Pastores hoje?”. O Dom concluiu, falando sobre Vicente: “A caridade de São Vicente de Paulo hoje seria bater-se pela justiça, pois, se ele agora percorresse as ruas de nossa cidade, com certeza, coraria de vergonha, vendo os Pobres ao relento, sem teto, pedindo esmolas para sobreviver”. E, se Helder e Lamartine olhassem, neste momento, sobre as cidades e sobre a Arquidiocese de Olinda e Recife?
 
Reabrir esta Igreja não é apenas festejar uma boa e bonita obra de restauro. Batizar um “Espaço Dom José Lamartine Soares” não é somente homenagear o querido irmão e amigo que nos deixou há quase 25 anos. Celebrar a Eucaristia não se restringe ao executar de um ritual litúrgico.
 
Jesus de Nazaré, Helder Camara e José Lamartine merecem muito mais, de todos nós!
 
Recife, 29 de outubro de 2009
João Pubben 

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