Meus queridos amigos
Do bolso do garoto saíram três pedras lindas, quem sabe colhidas da lua, um cordão que talvez seja um fio telefônico ou ponte para transpor abismos… Um espelho partido, certamente mágico e revelador de segredos distantes. Um carretel vazio, que faz as vezes de cérebro eletrônico… Um apito, para chamar os meninos do mundo inteiro, tudo misturado em sonhos de quem vive há quilômetros luz do mundo egoísta que os homens criaram.
Já viu uma mãe chamar um filho de cinco ou seis anos, ralhar porque ele estava com mãos e pés imundos, reclamar porque os bolsinhos da calça estavam empanturrados. Segurou a criança e foi esvaziando os bolsos, achando, naturalmente, que tudo não passava, me perdoem, de porcaria.
Ele nem podia imaginar, ela nem podia imaginar como estava arrasando a criança. Tudo que estava guardado dentro dos bolsos do pirralho tinham uma importância imensa para ele.
Claro que não adiantava nem tentar explicar, porque gente grande custa tanto a entender!
Cristo quer que a criança não morra em nós. Ai de quem destrói e mata a criança dentro de si.
Seria muito engraçado se um dia quisessem ver o que enche os meus bolsos. Daria um trabalho para explicar porque tenho sempre comigo um guizo. Quando encontro alguém com tristeza, esmagada demais; quando tento, de todas as maneiras, acordar a esperança e uma ponta de alegria, meio brincando, meio sério, tiro do bolso o meu guizinho. Explico, acredite quem puder, que foi Amam, um peixinho muito meu amigo, quem me trouxe esse guizo do fundo do mar. E Amam me garantiu que é um guizo mágico, que tem o dom de afastar a tristeza.
Se não dá certo quando as pessoas se sentem ofendidas, é claro, eu deixo o guizo de lado. Que pena que boa parte da humanidade só acredite nas coisas sérias, que não saiba mais brincar.
Eu nem posso falar de outras maravilhas que carrego nos meus bolsos de bispo criança.
Clique e ouça a crônica na voz de Dom Helder Camara
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