O LEGADO DE QUEM FOI SANTO ANTES DA BEATIFICAÇÃO

 por Jailson da Paz 

Da equipe do Diário

 
Justiça // Para os fiéis seguidores dos ideais do ex-arcebispo dom Helder Camara, a sua obra em vida justifica o pedido que será enviado ao Vaticano.

 

 

O anúncio da Comissão Nacional de Presbíteros (CNP) de pedir ao Vaticano o encaminhamento do processo de beatificação de dom Helder Camara veio reforçar uma certeza de amigos e seguidores do ex-arcebispo de Olinda e Recife. A de que o religioso, falecido há oito anos no Recife, é santo antes mesmo de ser elevado aos altares da Igreja Católica. \”Nunca tive dúvida disso. Dom Helder foi um homem entregue às obras de Deus\”, afirmou Irmã Catarina Damascento, que esteve ao seu lado durante 24 anos. A reivindicação da CNP consta no documento de conclusão do 12º Encontro Nacional de Presbíteros, realizado esta semana em São Paulo. E deve seguir para a Congregação para a Causa dos Santos, em Roma, ainda no primeiro semestre deste ano. Ele foi o primeiro documento da Igreja a tratar da beatificação do sacerdote.
Irmã Catarina diz ter muitas razões para crer na santidade de dom Helder. Ao longo de anos de convivência, ela participou de várias atividades ao lado ex-arcebispo. No fim da tarde de ontem, ela repetiu um desses gestos. Por mais de meia hora, distribuiu sopa para os moradores de rua. \”Ainda hoje lembro do dia em que dom Helder pediu para a gente não abandonar essas pessoas. Não deixá-las morrer de fome\”, afirmou a freira enquanto enchia panelas e pratos de crianças e adultos. A data do pedido: 25 de março de 1975. E a distribuição, como de costume, ocorre ao cair da tarde em frente à Igreja das Fronteiras, no Derby, onde o ex-arcebispo celebrou missas e morou durante cerca de 30 anos. O gesto, segundo Irmã Catarina, aponta para a dimensão social do sacerdócio exercido por dom Helder. \”Mas ele possuía outras preocupações\”, disse.
 
Foto: Edvaldo Rodrigues – DP /- 19.12.91
 
DEVOÇÃO
 
 O olhar do ex-arcebispo de Olinda e Recife era amplo. De acordo com a ex-secretária de Dom Helder, Maria José Duperron Cavalcanti (Zezita), costuma-se privilegiar em estudos e debates o embate político do religioso durante o regime militar (1964-1985). \”Dom Helder era um místico. Um homem evangélico. Tinha uma devoção profunda à Nossa Senhora e costumava participar de retiros e rezar o terço\”, salientou.

 

Além dessa espiritualidade, acrescentou Zezita, o sacerdote guiava-se por outros princípios, a exemplo da paciência para ouvir, a disponibilidade e o serviço para os outros. \”Quem conheceu dom Helder, como eu, sabe o quanto ele foi evoluindo como espírito ao longo do tempo. Ele se preparou para ser um santo junto a Deus, mas escolheu ser um santo alegre\”, disse Zezita, que foi secretária dele por 35 anos.

 


As características destacadas por Zezita, aliadas à coragem de denunciar injustiças sociais e políticas, pesaram na escolha da CNP. A comissão pedirá a beatificação por considerar o ex-arcebispo como modelo para os novos padres. \”Ser modelo de presbítero é ser reto, justo e profeta. Profeta no sentido de denunciar as injustiças. E dom Helder era isso\”, considerou o presidente da CNP, padre Francisco dos Santos. Ainda, segundo ele, o nome do ex-arcebispo de Olinda e Recife, teve aprovação por unanimidade dos delegados do Encontro Nacional de Presbíteros.
 
Publicado em 22 de fevereiro de 2008
Vida Urbana – Diário de Pernambuco
 
 

Deixe uma resposta