* Por Lucia Moreira
A Arquidiocese de Olinda e Recife teve o privilégio, por mais de três décadas, de ter um verdadeiro pastor que, entre mil outras coisas, dizia: \”se as pessoas te pesam, não as carregue nos ombros, levea-as no coração\”. Ninguém, em nenhuma época ou circunstância, deixou de ser carregado por ele no coração, porque o amor em sua maior dimensão foi a grande marca do Dom, como muitos o chamavam. Apesar de confiar em seus colaboradores e saber delegar, e por estar consciente de sua missão no mundo, o Dom pensou nas normas da Igreja de aposentadoria aos 75 anos e cuidou para garantir a continuidade de um trabalho compartilhado.
No dia 7 de fevereiro de 1984, com um grupo de amigos e colaboradores, ele fundou a Obras de Frei Francisco (OFF), um projeto pensado e elaborado – desde 1982 – conjuntamente com o amigo Nelson Mota que escreveu o 1º estatuto. Na missa comemorativa de seu aniversário, na Igreja das Fronteiras, ele apresentou o projeto e convidou a todos para se associar à nova entidade. Em agosto de 2003 concretizou-se o desejo de seus colaboradores, no sentido de dar à OFF o nome do Dom, que passou a se chamar Instituto Dom Helder Camara. O IDHeC não pretendeu, de forma alguma, iniciar ou patrocinar todo ou qualquer culto à personalidade de Dom Helder, tanto que preservou a mesma estrutura da OFF, dando continuidade às atividades-fim originais, de acordo com sua Carta de Princípios. Como o IDHeC está perseguindo os objetivos de produzir ações que promovam a justiça e a paz; combater todas as formas de violência; proteger os socialmente excluídos e desenvolver o espírito de solidariedade?
As dificuldades financeiras são imensas e permanentes quanto a manutenção da entidade e contratação de uma equipe técnica e administrativa. A Casa de Frei Francisco, \”braço social\” do IDHeC, atende 120 crianças e adolescentes das comunidades dos Coelhos e Coque, graças a parcerias com a FAFIRE, com a Prefeitura, através do convênio com o PETI, e com a CHESF, que há 3 anos vem mantendo o Projeto Cidadão do Amanhã. O CEDOHC, com um movimento extraordinário de pesquisadores e visitantes, só abre para o público um expediente e conta apenas com uma bibliotecária (4 horas) e uma estagiária. O Projeto Obras Completas que até este ano tinha apenas um volume publicado, neste ano do centenário, e sob o patrocínio do Governo do Estado através da CEPE, lançará mais 5 volumes além de um livro de poesia.
O Memorial Dom Helder Camara, um projeto complexo porque trata da restauração de edificação histórica, teve uma primeira etapa com a total restauração da coberta e do forro da igreja, patrocinada pela Philips do Brasil e, atualmente, sob o patrocínio do BNDES estão em processo a restauração da estrutura física e dos altares, completamente danificados pelo cupim. Para a instalação no pavimento superior da igreja de um espaço para exposição e estudo, o IDHeC apresentou um projeto ao Governo do Estado, que está mobilizando empresas privadas.
E qual a renda do IDHeC para se manter no dia a dia (água, luz, telefone, internet, funcionários, impostos, segurança, etc)? Além de pequenas doações de amigos, há uma contribuição mensal de sócios e a venda de material como calendário, livros, camisetas e brindes. O resto, o IDHeC faz como seu fundador e patrono: confia na Divina Providência. Isto não basta e sabemos que nenhuma entidade pode sobreviver assim. Esperamos o Memorial para promover ações educativas e culturais que tenham um retorno financeiro capaz de manter uma estrutura mínima de ação. Também não basta: precisamos de parcerias. Precisamos de valorização da atividade do IDHeC.
* Lucia Moreira é presidente do Conselho Curador do IDHeC
Texto publicado em 2009, no JC Online, durante as comemorações do Centenário de Nascimento de Dom Helder Camara.
http://www2.uol.com.br/JC/sites/sementesdodom/artigos.html