EMAÚS

\”Maria se mantinha próxima do sepulcro, chorando. Enquanto chorava, inclinou a cabeça e olhou para dentro do sepulcro, onde viu dois anjos vestidos de branco, sentados no lugar onde o corpo de Jesus fora colocado, um à cabeceira, outro aos pés. Então eles lhe perguntaram: ‘Mulher, por que choras?’ Ela lhes respondeu: ‘Porque levaram o meu senhor e não sei onde o colocaram!’ Tendo dito isso, voltou-se para trás e viu Jesus em pé, mas não reconheceu que era Jesus\” (João 20, 11-18 ).
Agrada-me muito encontrar em Maria Madalena a figura de apóstolo dos apóstolos. É como a Samaritana, que teve a missão de trazer os samaritanos até Cristo. Mas, nessa passagem, trata-se de algo muito mais importante, o anúncio da ressurreição! Basta refletir sobre isso para que corrijamos nossa maneira de julgar as pecadoras e os pecadores…
É bem difícil compreender como é que Maria Madalena, cuja devoção ao Cristo era notória, pode não o ter reconhecido de imediato. Ela ter chegado a pensar que se tratava do jardineiro… Mas, não se passou o mesmo com os discípulos de Jesus que o reencontraram, depois da ressurreição, no caminho de Emaús? Haviam convivido com ele durante três anos inteiros… Quando se ama verdadeiramente a alguém, basta-nos ouvir sua voz ou até seus passos, para que o reconheçamos… Mas não foi o que sucedeu: falaram com ele, andaram a seu lado, e não o reconheceram, a não ser quando o Cristo repartiu com eles o pão…
Eu refletia sobre isso certo dia, quando alguém bateu à minha porta. Era um pobre, e ele me interrompia no preciso momento em que eu meditava sobre os discípulos na estrada de Emaús – por que não puderam reconhecer o Cristo? Para me livrar mais rapidamente daquele visitante inesperado, dei-lhe algum dinheiro, um sorriso e o adeus. Assim que fechei a porta, dei-me conta de minha precipitação: \”Fizeste o mesmo que os discípulos de Emaús! O Senhor Jesus bateu à tua porta, falou-te, e tu acabas de abandonar o Cristo vivo para retornares às tuas meditações sobre a cegueira de teus irmãos de Emaús!”
É por isso que, ao reler frequentemente esse episódio, penso sobre a nossa responsabilidade diante daqueles que, talvez, possam estar às portas do desespero. Nossa porta, para quem nela venha a bater, pode estar sendo a última porta… Pode-nos estar sendo feito o último apelo, nossas palavras podem ser as últimas que alguém ouça. É importante que possamos estar atentos às necessidades daqueles que, como os discípulos a caminho de Emaús, estejam às portas do desespero.
Ah, que graça, Senhor, de podermos ser transparentes para o Cristo vivo dentro de nós! E de nos recordarmos que os discípulos de Emaús somente reconheceram o Cristo quando Ele repartiu o pão. Quando eu rezo a missa e reparto o pão considero sempre essa extraordinária sensibilidade do Senhor!
Vem-me à memória a lembrança duma jovem que, com muita insistência, conseguiu que seu pai a acompanhasse à missa. Ele era uma importante personalidade, que perdera por completo sua fé. Então, foi assim que essa moça orou: \”Senhor, transfigurai-vos durante esta missa; meu pai está aqui, a meu lado, tocai-lhe o coração!\” Logo depois da cerimônia, ela se preocupou em saber se seu pai havia sido tocado pela Eucaristia. Pobre infeliz! O comentário que ouviu dele foi este, cheio de rancor contra nós, os padres: \”Minha filha, não se iluda! No fundo, esses padres nem pensam que o Cristo esteja na Eucaristia…\”
É evidente que não devemos exagerar. O Senhor não gosta de exageros. Mas como é importante que participemos de modo mais vivo, mais verdadeiro, da celebração do Cristo! Para que todos compreendam que não se trata de mera côdea de pão o que ali está, mas do próprio Cristo!\”

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